domingo, 10 de setembro de 2017

Enxerguei no calvário

No calvário foi onde eu enxerguei pela primeira vez.
Na qual, eu nunca tinha visto nada antes.
Passei a vida inteira vendo borrados. Sombras. Sombrio.
Mas foi no calvário que eu vi.
Vi pela primeira vez.

Vi dor. Vi sangue.Vi cruz.
Vi um homem sendo torturado. Exposto. Confrontado.
De rosto pelo qual me parecia familiar.
Aquela sensação de saber quem Ele era. Como se já nos tivéssemos visto antes.
Mas Ele me viu. Eu não. Ainda não.

Antes, Ele para mim era só um borrão. 
Mas para Ele, eu já era conhecida desde a fundação do mundo.
Desde a criação daquela colina. Calvário. Lugar de dor.
Para Ele, eu era conhecida pelo nome. 
Meu nome.

Mas na verdade, me vi naquele homem.
Naqueles olhos cansados de lutar.
Naquele julgamento. Peso. Solidão.
Naquela imensidão de confusão. 
Naqueles gritos engolidos. Abandono. Desilusão.

Mas também me vi como os soldados que cuspiam em seu rosto.
Nas correntes que açoitavam o seu corpo nu.  
Nos insultos que atingiam a sua alma vulnerável. Frágil.
Na coroa de deboche que perfurava a sua pele.
Nos pregos que ultrapassaram suas mãos que me curaram e seus pés que sempre correram para mim.
E que antes, eu não vi.

Mas de repente, Ele me viu. 
E eu pude enfim me ver em seus olhos.
Ele olhou para mim como quem já estava cansado de suportar o insuportável.
E mesmo com tanto sangue enchendo os seus pulmões, ele resolveu arriscar.
Palavras do homem de dores:
"Pai, perdoa-lhes. Eles não sabem o que fazem".

Houve um último suspiro. 
Sua cabeça enfim abaixou.
Seu corpo ferido relaxou.
Seus olhos cansados fecharam.
Seu coração ferido, sossegou.

E de repente, tudo se calou.
Silêncio no Lugar da Caveira.
Cheiro de morte.
Mulheres choravam ao fundo.
Assim como um amigo seu. Por saudade de repousar em seu peito.

Mas o sol das três horas da tarde se escureceu.
Porque as cerca de seis horas de dor cessaram-se. 
Ouve-se um estrondo. A terra se partiu.
E o coração do Pai, também.
E uma voz interior cochichava.
Foi por mim. Foi por você.

Mas um inocente havia sido morto naquela cruz.
Em meu lugar.
Algo estava errado. Algo não fazia sentido.
Como alguém sem culpa poderia morrer por alguém culpado?
Errado.
Era pra ser eu.


Rompeu-se.
No terceiro dia uma rocha rolou.
E com ela a minha escuridão cessou.
Pude ver os olhos mais bonitos de toda a minha vida.
Claros, como águas cristalinas. 
Que levaram embora meus medos. Minhas dores. A minha culpa.

Olhos de amor. 
De perdão.
De solução.

E Ele me chamou de filha.
De sua filha.
De sua irmã.
De seu amor.

Mas eu ainda não entendia. 
Quem era aquele homem?
Era de fato alguém real?
Porque havia feito aquilo? Ainda mais por mim?
Não fazia sentido.

Mas Ele pegou na minha mão.
E a sua voz. Irresistível. Certeira como uma flecha.
Disse que a cruz era uma prova de amor.
De um amor eterno.
Que permanece. 

E Ele me disse que aquele amor não dependia de mim.
De quem eu era.
De quem eu sou.

Foi então que Ele me pediu em casamento.
Naquele lugar. Que antes fora de dor.
Mas agora, era de alegria.
Esperança. Vigor.
Porque tudo se fizera novo.
E minha vida já não era mais a mesma.

Então eu aceitei o pedido.
Pedido pelo qual eu nasci para aceitar.

E Ele me disse que ia preparar um lugar.
Para morarmos.
Para sempre.

E que tudo ia ficar bem.
Porque Ele iria embora, mas deixaria uma parte Dele comigo.
Um doce amigo.
Que me ajudaria a enfrentar as coisas por aqui.

E então eu segui com meus pés renovados.
Descansados. Mas já não mais descalços. 
E com meus olhos abertos. 
Seguros. Certos de tudo o que eu vi.
Enfim tinha um motivo. Um caminho. Uma verdade.
Um propósito de vida a seguir.

E eu sigo este caminho esperando um dia encontrar aqueles olhos de novo.
Mas me lembrando que tudo começou no calvário.
Naquele lugar em que eu vi
O vi
E me vi
Pela primeira vez.

Jesus.
O meu Jesus
Ali
No calvário
Por mim.


Créditos/foto: Tumblr: zonadeatrito

"Tu viste quando os meus ossos estavam sendo feitos, quando eu estava sendo formado na barriga da minha mãe, crescendo ali em segredo, 16tu me viste antes de eu ter nascido. Os dias que me deste para viver foram todos escritos no teu livro quando ainda nenhum deles existia" Salmos 139:15-16.

"Olhando para Jesus, autor e consumador da fé, o qual, pelo gozo que lhe estava proposto, suportou a cruz, desprezando a afronta, e assentou-se à destra do trono de Deus". Hebreus 12:2

5 comentários:

  1. Lindo poema, Yas!! Emocionante e tocante, como você sempre faz! Que lindo é ver esse relacionamento tão íntimo que você tem com Jesus, de tal forma que transborda textos tão tocantes e cheios do Espírito Santo de Deus. ��

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    1. Ele é lindo, amiga!! Obrigada pelo apoio de sempre! Seus incentivos e comentários sempre me ajudam e me edificam muito! Amo você! ♥

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  2. Amei, chorei, sorri! Esse poema gerou um misto de emoções aqui dentro!
    Amo vocês dois ♥

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    1. Ele é tão assim, né? Um mar de sentimentos dentro de nós! Obrigada pelo recadinho, amiga. Amo você demais! ♥

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  3. Lindo, maravilhoso, pronfundo e real! Não tenho palavras que descrevam quão fantástico é este poema, mas posso afirmar que muitos outros poemas irão jorrar desta fonte! Assim como as águas vivas que correm do trono de Deus, trazendo vida e movimento ao que estava adormecido, seja desperto no nome de Jesus!

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